terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Desabafos de farmacêutica


A minha alma de farmacêutica rejubilou de alegria ao ler isto:
http://jwhoamis.blogspot.pt/2015/01/atchim-santinho.html

Não acho que todas as pessoas tenham de ser cultas, perceber imenso de doenças e de medicamentos. Eu também não percebo nada de agricultura, direito e engenharia. Mas chateia-me o não querer saber. Quantas vezes os farmacêuticos se recusam a vender antibióticos e as pessoas nos viram costas? Nem bom dia, nem obrigada, nem boa noite. ''Ah, mas esta gripe só passa com antibiótico''. Não, meus caros, nenhuma gripe passa com antibiótico, simplesmente porque os antibiótico ''matam'' bactérias e a gripe é de origem viral. ''Mas da última vez o médico receitou-me um antibiótico''. Pois e há dois motivos para isso, os quais passo a explicar:
Primeiro motivo - A sua gripe complicou-se e surgiu uma infeção (respiratória, por exemplo) que precisava de ser tratada com antibiótico
Segundo motivo - Se o médico não receitar um antibiótico é porque não presta. Eu já ouvi histórias de médicos que receitam antibióticos a crianças porque das vezes em que não o fazem os pais voltam lá com elas (em vez de esperarem sossegados em casa que o próprio sistema imunitário trate do vírus) e neste tempo que elas passam nos hospitais para trás para a frente, correm um risco maior de infeção. Por isso, os médicos preferem descansar os papás, dar logo o antibiótico e afastar as crianças do hospital o mais rápido possível.

Claro que existem situações em que é preciso tomar um antibiótico, mas quando se vê claramente que o doente só precisa de sopas e descanso, nós podemos aconselhar anti-inflamatórios, um xarope para a tosse, um anti-alérgico ou uma vitamina c. Não porque estas coisas são mais caras, não porque queremos vender mais, não  porque somos teimosos ou incompetentes, não porque achamos que estes medicamentos o vão curar, mas vão ajudar a diminuir os sintomas que o incomodam. Acredito que os profissionais de saúde têm de olhar pela saúde de cada um e pela saúde dos nossos filhos. Qualquer dia não há antibióticos que nos valham porque as resistências são mais que muitas.

(- Depois desta explicação, já percebeu que estamos apenas a zelar pela sua saúde?
- Obrigada pela sua atenção, mas eu vou à farmácia da outra esquina que eles vendem.)

O que vale é que eu gosto do que faço e continuo a acreditar que as mentalidades podem ser mudadas. A pouco e pouco, com paciência e esforço. Muitas vezes é preciso respirar fundo e ter muita força para dizer que não, mas eu prefiro fazer o que é mais correto, em vez de escolher agir de forma fácil.

4 comentários:

  1. De médico e de louco todos temos um pouco!!

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  2. Em primeiro lugar, obrigado pela referência.

    Em segundo, informo que há alguma coisa errada com o link http://jwhoamis.blogspot.pt/2015/01/atchim-santinho.html. O melhor método é fazer copy/paste para a janela de colocação de links (botão na barra de ferramentas). Mas isso agora não interessa nada. :)

    Pois... a minha formação em farmácia ou medicina, é igual à que tenho em engenharia espacial. Simplesmente sou uma pessoa interessada e como o saber não ocupa lugar e não tenho paciência para novelas, prefiro aprender coisas que me podem ser úteis.
    Em relação aos antibióticos, até fico arrepiado com as barbaridades que se cometem, fruto da ignorância dos utentes e da displicência de alguns médicos.
    Eu não recuso tomar antibióticos para a gripe. A última que tive e que me deixou mazelas, foi atacada com antibiótico. Mas porque eu tive problemas oncológicos num pulmão e uma infeção hospitalar no seguimento da cirurgia (há 10 anos), deixou-me fragilizado e as "cicatrizes" desse mal, costumam dar-se mal com gripes e constipações. Mas tenho a noção que quanto mais recorrer aos antibióticos, maior é o risco de um dia apanhar uma daquelas resistentes que me vai levar para os anjinhos.
    É assustador o desconhecimento básico que o cidadão comum tem acerca do funcionamento do corpo. E não estou a referir-me à minha avó, que morreu com 98 anos sem conhecer uma letra. O problema é que isto se passa em pessoas no mínimo com a escolaridade obrigatória, quando não com licenciados.
    Toda a gente sabe tudo acerca da casa dos segredos. Pensar, dá muito trabalho. :/

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  3. isso é muito dificil... mudar mentalidades, enfim

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  4. S*, é verdade. Só as proporções é que vão variando. ;)

    JS, acho que no link agora já está bem! Não tens nada que agradecer a referência, foi para mim uma alegria ver que afinal ainda há pessoas que se esforçam para perceber as coisas. Sê bem-vindo! Gosto de ter seguidores que sabem pensar. :)

    C. É difícil, mas não é impossível! Yes, we can! :D

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